terça-feira, 17 de junho de 2008

Bogotá é o que há. E você, provavelmente, duvida disso.

Buenos Aires, Argentina. Foi lá que conheci o colombiano que me fez mudar a idéia que até então tinha – e que você provavelmente tem – sobre a Colômbia: um país isolado do mapa e dominado pelo narcotráfico. Um ano e meio depois essa minha má impressão viraria pó. Não do branco.

Durante esse período, entre o convite e o embarque, tratei de pesquisar tudo sobre a Colômbia e sua capital, Bogotá. Comecei, claro, pela segurança. Pesquisei seu povo, sua cultura, culinária e, por precaução, ouvi opiniões de pessoas que já haviam visitado o país andino recentemente. Todos eram unânimes: Bogotá é inesquecível. Decidi que pagaria pra ver.

Na verdade não paguei, usei milhas. Convenci dois amigos a me acompanhar e pegamos o único – e longo – vôo disponível, da Varig, que saiu de Fortaleza às 6 da manhã e, entre conexões, almoço na Daslu e trocas de aeroportos, chegou em Bogotá às 23hs do mesmo dia. A Colômbia fica aqui na nossa esquina, mas a única opção de companhia brasileira para Bogotá sai de São Paulo. Devo reconhecer: o serviço de bordo da Varig compensou a longa viagem.

Desembarcamos em Eldorado, aeroporto local, trocamos nossos 100 reais por 120 mil dinheirinhos colombianos (pesos) e pegamos um táxi até o hotel. Taxistas talvez sejam umas das poucas coisas com as quais você deva ter uma atenção extra. Alguns são quase tão espertinhos quanto os nossos brasileiros. Quase. Verdade é que se paga muito pouco por uma corrida. O trajeto aeroporto – hotel (cerca de 40 minutos) custou 16 reais. Teria custado caro se caíssemos na lábia do motorista de ir para um hotel bem localizado e mais barato. Aham.

O caminho até o hotel nos deixou receosos. Nada havia enchido os olhos ainda. E chegando ao hotel, devastados pela fome, a situação piorou: não havia comida disponível. Nem no hotel, nem fora dele. Como assim? Nenhum dos nove milhões de bogotanos sente fome depois de meia noite? Pegamos um táxi (outro) e fomos atrás de comida na cidade. O motorista sugeriu um lugar bem localizado com comida barata (oi?). Dessa vez fomos. Como sobrevivemos àquela intrigante "hamburguesa", só Deus sabe.

No dia seguinte, começamos a programação. Em Bogotá, não há as facilidades de uma cidade turística. É preciso correr atrás das informações para ir aos lugares certos. Como era de se esperar, os colombianos são muito cordiais e com a ajuda deles, inclusive dos taxistas, fizemos nosso roteiro. Começamos subindo o teleférico rumo ao topo do Cerro Montserrat. A vista, lá de cima, é incrível e o almoço em um restaurante de madeira na beira da colina, é fabuloso. Após a descida, uma caminhada até o centro histórico, com uma pausa no Museu Botero e na Casa da Moeda, dá uma idéia do cotidiano e cultura da capital colombiana. Os ônibus retrôs circulam pelas paisagens históricas, enquanto os nativos - com traços fortes que se confundem com seus penteados modernos (todos usam o mesmo cabeleireiro) – caminham, ora pelas tranqüilas ruelas de pedra, ora entre o trânsito confuso das áreas mais badaladas.

A vida noturna, acredite, é intensa e há sim, gente muito bonita. Em especial na Zona T, onde estão bares e restaurantes bacanérrimos que, além da agitação, têm preços bem convidativos.Os lugares especiais de Bogotá estão fora dela. Em Zipaquitá, há 40 minutos, fica a Catedral de Sal, encravada dentro de uma colina de sal. Um lugar impressionante. Em Chia, cidade próxima, um dos lugares mais mágicos que pudemos conhecer: o restaurante Andrés Carne de Res. Um lugar para mais de 3.000 pessoas, com mais de 100 garçons (garotos e garotas, todos modelos) que é uma mistura de teatro, show de humor, ferro-velho, galeria de arte tudo num liqüidificador. É tanta informação para ser digerida que você sai de lá, cinco horas depois, e sequer lembra que o lugar era apenas um restaurante. A comida, diga-se de passagem, é ma-ra-vi-lho-sa.

Ah, o colombiano que conheci, aquele de Buenos Aires, foi nos dar as boas vindas. Pegou a gente no hotel e 10 minutos depois furou o pneu do carro. A noite com ele acabava por ali. Mas foi divertido.Bogotá não está na Europa. Portanto, tem muitas das mazelas de uma cidade grande da América do Sul. Mas é, atualmente, uma das cidades mais seguras da América Latina, e dá lição a muitos países, inclusive ao Brasil, de como superar o problema do narcotráfico. Você ainda deve se perguntar: e as FARC? Em Bogotá, elas provavelmente lhe oferecem o mesmo perigo que na sua casa.

Se você também decidir pagar para ver, prepare-se para as piadas, que são sempre as mesmas: "Vai trazer da pura?", "Vai pegar da fonte?", "Fazer o quê em Bogotá?". Mas, como quase tudo em Bogotá, é um preço baratíssimo a ser pago. Pague.

Matéria de minha autoria editada e publicada pelo portal TERRA: http://turismo.terra.com.br/interna/0,,OI2947260-EI176,00-vc+reporter+Bogota+oferece+diversos+passeios.html em 13/06/08

domingo, 15 de junho de 2008

48hs

O suficiente para pegar dois aviões, atravessar o país, pegar um carro, viajar até o Estado vizinho, ir à uma balada engraçadíssima, com pessoas esquisitas, conhecer pessoas fofas, rever pessoas queridas, dormir no meio da sala, fazer todo o percurso inverso e voltar ao conforto do seu lar.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Como a vida termina.

Eu vou abrir uma excessão e publicar um texto que não é de minha autoria. Só porque achei um dos textos mais incríveis e inteligentes que já lí. Vale a pena.

"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina.
Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente.
Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.
Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo.
Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar.
Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria.
Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.
Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?"

Autor ainda desconhecido.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

4 passos para conseguir um estágio e se dar bem nele.

Artigo publicado em www.profissaomoda.com.br

Ao longo dos anos, tenho recebido, diariamente, currículos de alunos candidatando-se a vagas de estágio. Foram diversas entrevistas e experiências observadas durante este tempo.

Tenho sempre debatido com colegas proprietários de outras confecções e também com professores e coordenadores de alguns cursos de moda do Ceará, alternativas para tornar o estudante de moda mais capacitado e, principalmente, melhor informado sobre o mercado que o espera.

Com a intenção de compartilhar essas vivências e orientar os candidatos, sugiro abaixo quatro passos básicos, porém bastantes relevantes, para se dar bem ao concorrer a uma vaga de estágio e garantir, quem sabe, uma efetivação.

Iniciativa.
Se você conseguir estágio em uma empresa grande, seus chefes provavelmente terão pouco tempo para ensinar o caminho das pedras. Se o estágio acontecer em uma empresa pequena, menos tempo ainda. Neste caso, precisarão que você mesmo indique as respostas para diferentes necessidades da empresa. Se você quer de seus chefes tempo e atenção para ser orientado, sua pró-atividade será fundamental. Não espere ser cobrado. Pesquise, planeje e ofereça alternativas. A atenção dispensada a você a partir de então será outra, acredite.

Vale uma ressalva: avalie se você tem liberdade para sugerir alternativas e emitir opiniões, evitando conflitos com as pessoas que já são responsáveis por aquela função. Se for o caso, pergunte antes se você pode oferecer sugestões.

Comprometimento.
Nunca vá a uma empresa procurar um estágio só porque você precisa concluir a disciplina de estágio supervisionado para se formar. Empresas oferecem oportunidades, não favores. Se ela vai te dar uma oportunidade, esperará algo de bom em troca. Estude sobre a empresa que você vai abordar e vista a camisa, caso seja efetivado.

Conhecimento prático.
Conhecer as funções de um estilista na prática não significa necessariamente ter experiência no setor. O que muitos alunos não percebem é que são as cadeiras práticas - aquelas que fazem visitas às fábricas (geralmente em horários alternativos ou nos fins de semana) - que são, provavelmente, as mais importantes para seu desempenho profissional.

O conhecimento, mesmo que básico, dos diferentes processos dentro de uma lavanderia, estamparia, fábrica, farão toda diferença quando um empresário tiver que selecionar um estagiário entre tantos que se candidatam a cada vaga surgida.

Se você é do tipo que acha que porque gosta de criação, não vai ter que entender de costura, ou porque gosta de desenvolvimento de produto não vai ter que entender de modelagem, até existe mercado pra você, mas ele é bem menos promissor.


Dinamismo.
Se você for para uma empresa pequena, certamente terá que lidar com diferentes funções. Muita gente vê isso de uma forma negativa, mas nada mais intenso para uma experiência profissional e empreendedora que trabalhar em uma empresa pequena.

Você até tem o direito de dizer: “isso não é função minha”. Mas lembre-se que seu chefe também terá o direito de dizer: “não é de você que eu preciso”.

Procure exercer diferentes funções. Isso vai lhe dar um dinamismo muito rico e capacidade empreendedora, fortalecendo seu currículo e o futuro da sua carreira. Submeter-se a diferentes experiências não significa submeter-se a qualquer coisa. Mas pense duas vezes antes de dizer não. Tudo depende do quão longe você quer chegar profissionalmente.

No fim das contas, eu sou um sujeito de sorte. De muita sorte.

Fortaleza. Sábado, 24 de março.

8:45
O despertador toca na hora programada. Terei tempo para terminar a mala, resolver algumas pendências e me arrumar para o vôo de 11:50 da GOL que me levará a SP para o show do Roger Waters às 21hs no Morumbi.

9:00
Meu celular toca. É o Denis, um dos amigos com quem viajarei.

Voz tensa:

- Pablo, nosso vôo de 11:50 foi cancelado cara!

Ainda semi-acordado, pergunto-me se ele faria uma brincadeira como essa àquela hora da manhã. Ele não faria.

- Como assim, cancelado? É sério?
- Sim, ligaram-me agora da Gol. Cancelaram. Transferiram todos os passageiros para o vôo das 14:50.
- Pu-ta-que-pa-riu.

Ligo para a GOL. Tenho alguns amigos que trabalham lá. Apresento-me, aflito, e pergunto que outra opção de vôo teria para mim.

Uma ressalva: por ser beneficiário de uma funcionária da Gol eu só embarco quando há disponibilidade de assento na aeronave. Ou seja, eu não me incluía entre “todos os passageiros transferidos para o vôo de 14:50”, pois este estaria lotado com a recolocação.

- Pablo, o vôo das 14:50 realmente estará lotado. Temos um vôo saindo agora, 10hs que faz Fortaleza – Recife – Salvador - Rio de Janeiro - São Paulo. Quer ir nesse? É a única opção e você tem que correr para conseguir chegar a tempo. Se não atrasar em nenhum destino, deve chegar em SP às 19:20.
- Caralho, é a única opção? Então me coloca nesse que eu dou um jeito de chegar aí!

Pulei da cama, peguei a mala e, quase neurótico, saí de casa.

- Rebeca, tu tem que me deixar no aeroporto agora! Meu vôo foi cancelado!

9:40

Chego no aeroporto. O vôo das 10hs estava meia hora atrasado. Consegui chegar, pagar as taxas e ir ao check in. Quando estou despachando a mala, a notícia:

- Pablo, o trecho Salvador-Rio desse vôo está lotado. Não posso te embarcar.
- Puta-que-pariu-o-que-é-que-eu-faço-agora?
- O Vôo das 14:50 está lotado. Tem um vôo que sai daqui às 17hs e chega em Congonhas às 20:20, se não atrasar.
- Tá louco? Mesmo que não atrase, eu perderia metade do show, que é no Morumbi!

Tenso, ligo para minha amiga que trabalha na GOL.
- Socorro! Não consegui embarcar no vôo de 10hs e o das 14:50 tá lotado, o que eu faço?
- Calma! Pede pra supervisora te colocar na reserva do 14:50 que você vai nem que seja com o comandante! Chego aí daqui a pouco pra te ajudar.

Como não tinha garantia de embarcar nesse vôo, eis o que fiz: fui ao balcão da Varig e da Ocean Air verificar se havia vôo direto para São Paulo naquela tarde. Não havia.

Na BRA havia um, mas estava previsto sair às 15hs e não era certeza. Na TAM havia um que saia também às 14:50, assim como aquele da Gol. Liguei para uma amiga na agência de turismo e pedi que ela comprasse um assento nesse vôo por garantia. Custou-me mais 385 reais. Ui.

13:40
Aguardo minha amiga ver a possibilidade de embarcar no vôo GOL de 14:50, minha melhor opção, quando ela liga.

- Pablo, já sabe do vôo de 14:50? Está previsto com mais de duas horas de atraso.
- ...

Broxado, corri pra fazer o check in na TAM. Era minha última opção. Torci para que não atrasasse também.

- Senhor, o vôo vai atrasar apenas 20 minutos, mas faz escala em Brasília e lá não podemos garantir que não haverá atrasos. Por enquanto não está havendo sequenciamento em Brasília (a maldita operação-padrão dos controladores), mas até lá ninguém sabe.

Embarquei.

Estou a caminho da aeronave, quando o “finger” (aquela passarela que leva você até o avião) se desprende da aeronave.

Gritos.
- Todos pra fora da passarela, ela se soltou do avião!

Dez minutos depois, tudo resolvido. Entramos no avião. Todos embarcados, prontos para seguir viagem, quando 6 para-médicos começam a entrar. Uma passageira estava passando mal. Acreditem, além de tudo a desgraçada ainda estava na última fila do avião!

Quase 40 minutos se passaram para atender a filha-de-&$%&^#@&^.

16:00

Com mais de 1h de atraso, levantamos vôo de Fortaleza.

Na escala em Brasília, liguei para o motorista que me esperava em São Paulo.

- Marcos, o vôo deve chegar entre 19:30 e 20:00 em Congonhas.
- Seu Pablo, se o senhor chegar 20hs vai perder metade do show.

Ah, como eu quis matá-lo por dizer isso.

19:00

Levantamos vôo de Brasília e o comandante faz um contato.

- Senhores passageiros, nosso pouso está estimado para 20:20 em Congonhas.

A essa altura, já havia entregue os pontos. Ficava fazendo as contas de quantas músicas ainda conseguiria ver daquele show pelo qual pagara uma fortuna.

20:25

O avião pousa em Congonhas.


Eu não tinha bagagem, pois deixara a minha jogada em Fortaleza para ganhar tempo na chegada. Trouxe apenas o básico. Menos que isso.

Antes de pousar eu já havia me mudado da poltrona 22 para a poltrona 3, próximo à saída. Enquanto a comissária instruía os passageiros a manterem seus celulares desligados, eu já havia desatado os cintos, ligado para o motorista e tão logo a porta da aeronave abriu, eu bati em disparada até a saída. Congonhas foi reformado há pouco e o desembarque agora é imenso. Nossa aeronave parou na penúltima passarela. Quase 1km correndo feito louco até a saída, observado curiosamente por centenas de passageiros.

Entro no carro e aceleramos para o Morumbi. Meu irmão já estava no estádio e avisara que o trânsito até lá estava tranqüilo.

21:00 em ponto.
Chego ao Morumbi. Desço do carro e vou até o portão.

- Onde fica o portão 2?
- É aqui mesmo, senhor.

Coloco o pé no estádio e apagam-se as luzes. Começa o show. Pontualidade britânica.

Acredite, eu sou um sujeito de muita sorte.

Ah, o Denis, meu amigo, desistiu de embarcar depois de tantos imprevistos.